Parte 4 - Comida

TODA a comida indiana é apimentada. Só o que varia é a quantidade de pimenta empregada em cada uma. O uso de talheres não é muito difundido, o normal aqui é comer com a mão mesmo inclusive comidas não muito sólidas, como arroz com molho. Também, deve-se comer somente com a mão direita, pois a esquerda é considerada impura (digamos que eles não usam muito papel higiênico... ecaaaaa!!!). Por isso, há uma técnica apurada para comer só usando a mão direita que consiste em usar os três últimos dedos como uma espécie de colher, levá-los a boca e usar o dedão para empurrar a gororoba goela adentro. Às vezes, dá pra ver algum indiano pegando a comida com a mão e amassando-a pra fazer uma maçaroca e depois comê-la (ecaaaa!!!2). Como tive algumas experiências ruins com a comida aqui, decidi apostar no garantido: toda refeição, peço arroz com alguma coisa ou um biriyani que é um tipo de arroz com curry e outros ingredientes que desconheço. Porém, no geral, a comida indiana é muito boa. Vale sempre a pena pedir aquele nome estranho no menu pra ver o que é, tipo Palak Paneer ou Alloo Gobby. Contrariamente à crença geral, até da para achar carne de vaca em restaurantes no sul da Índia, embora eu só tenha presenciado isso uma única vez. Mais da metade dos indianos são vegetarianos, é bem comum se deparar com restaurantes 100% veg e os estabelecimentos non-veg geralmente oferecem frango e cabrito.

A foto abaixo mostra o Thali, o prato do dia-a-dia dos indianos, em sua versão tradicional/para turistas:
E tem que comer com a mão!

Parte 3 - Trânsito

Se você acha o transito de São Paulo horrível, aqui você pode ver como ele pode piorar. O trânsito daqui é O caos. De maneira geral ele flui bem, mas de forma caótica. Pra começar, o pessoal buzina mais do que acelera. É uma buzinação infernal e nos veículos comerciais há até uma sinalização escrita "please horn". A mão de trafego é a inglesa, mas isso não faz muita diferença já que os indianos adoram andar na contra-mão. E eles estão se lixando se vem algum carro no outro sentido, eles vão mesmo assim e esse outro carro que se vire pra não bater em você. As conversões de um sentido ou uma pista para outra são mais do que perigosas e em qualquer outro lugar seriam consideradas proibidas. Calçada é artigo raro e faixa de pedestre nem pensar. O número de motos circulando é impressionante e o uso de capacete é totalmente opcional.


Os ônibus são muito baratos: as passagens variam de 3 a 8 rúpias (de 0,10 a 0,25 reais), mas você tem que depender dos outros te avisarem quando chegar ao seu ponto. Como eles são privados, operando sob licença governamental, cada motorista pode personalizar o seu ônibus. Isso confere a esses bólidos um charme todo especial, como se pode ver abaixo:


Aqui, vê se um exemplo da coexistência entre crenças, tipo um candomblé indiano:


A decoração temática também vale para os caminhões:


Uma outra boa alternativa de transporte são os famosos tuk-tuks (aqui chamados de autorickshaws ou simplesmente autos). No entanto, as passagens são um pouco mais caras e seus preços variam dependendo do número de pessoas transportadas (de 1 a 5) e da sua cara de gringo. Negociar com um motorista é sempre uma tarefa penosa, fora que no geral eles são bem temperamentais, pra não dizer picaretas, e muitas vezes se recusam a te levar a algum ponto sabe-se lá porque.

Esse está novinho. Depois eles ficam assim:

In transitus:

obs: a imagem distorcida é representativa da péssima condução dos motoristas de autos

E pra não dizer que não falei das flores, está aí uma prova de que existe amor no trânsito indiano:

Parte 2 - Kochi


Depois de exaustivas 30 horas de viagem, chego em Kochi. A cidade em que fiquei por um mês na Índia é praticamente um vilarejo. Tem só 1 milhãzinho de habitantes, mixaria para os padrões nacionais. Em compensação, é um dos principais portos do país, é a cidade mais importante do estado de Kerala e tem uma grande tradição portuguesa. Foi aqui aonde Vasco da Gama chegou pela primeira vez, inaugurando o famoso Caminho das Índias (não, ele não é ator da Globo). Assim, é bem fácil topar com uma igreja no meio da rua, embora não tenha achado ninguém que falasse português. Tem um bairro turístico bem agradável para passear que fica em uma ilha, mas como eu morava na parte continental da cidade, acabei tendo uma rotina bem local.

Redes de pesca tradicionais de Kochi (e cartão postal da cidade)


Vista do meu apartamento

Igreja à moda indiana

Kerala, o estado aonde fica Kochi, significa ''Terra dos Coqueiros'' em malayalam. Tem coqueiro pra tudo que é canto. Mas, infelizmente, a água de coco não é lá essas coisas, tem um gosto de bicarbonato de sódio. Vai entender...

E, como estamos falando de Índia, temos que mostar um templo


Parte 1 - Bora pra Índia?!?!


Em um dia excepcionalmente quente de novembro, abro meu e-mail e recebo uma mensagem que minha requisição para o estágio na Índia tinha sido aceita. Antes de aceitar, pondero profundamente entre ir à Índia ou ser negão no Senegal, outro país em que tinha sido aceito. Os dois tinham elefantes (fator importantíssimo), culturas diferentes e me dariam a oportunidade de vivenciar coisas novas. Tirando no palitinho, decido ir para onde o fuso horário é o mais distante de casa - 8:30 hrs, Índia.
A isso segue-se uma saga pessoal para achar um vôo, renovar um recém-descoberto passaporte vencido e fazer um visto de entrada. Após um mês embarco no dia 22 de dezembro rumo à Kochi.

Mapa utilizado por Vasco da Gama para chegar à Índia. E não é fácil, viu...